domingo, 3 de fevereiro de 2008

"Já coisou o trequinho?"

Você já sentiu que estava em uma dimensão paralela à que habita e que, apesar de grande semelhança fonética, a língua falada a seu redor era incompreensível. É exatamente assim que me sinto toda vez que me perguntam algo do tipo "Já coisou o trequinho?". Por mais que esteja acompanhando a conversa e até interagindo é impossível decifrar a pergunta. Ela é tão vazia de significado e ao mesmo tempo preenchida por tantos que não há como não se confundir. O pior é responder com uma pergunta: "Como?" É exatamente o momento em que estou mais perdida porque não há meios de substituírem "coisar" e "treco" por algo mais específico. A pergunta é repetida e eu apenas ganho mais tempo para tentar decodificá-la.
Bem, sem saída, começo a analisar e pressiono a mente a trazer rapidamente uma resposta. Os interlocutores aguardam impacientes por uma. Invariavelmente deve ser a respeito de algo que eu deveria ter feito (a conjugação verbal deve ser a mesma do português e o advérbio tem de ser cognato, não tenho tempo para adivinhar). A julgar pelo sufixo (novamente supondo que a tal língua/o tal dialeto tenha raízes na nossa língua) imagino que seja um objeto de tamanho reduzido (e também excluo substantivos femininos): livro, copo, brinco, celular, brinquedo... Muitas idéias. Trabalho com o verbo: comprou, pegou, leu, consertou, assistiu... Raios! São tantas as possibilidades e os milésimos de segundo disponíveis para raciocinar esgotaram-se. Todos esperando uma reação. "Sim, já." Parece sempre uma resposta plausível e adequada à situação, afinal "trequinho" não pode ser algo tão importante assim. Todos sorriem, a conversa continua, minha mente relaxa. Claro que só até alguém perguntar: "Cê vai no coiso esse findi?"
Não há sossego. É preciso apostilar novas modalidades lingüísticas (ops! nem posso mais usar o trema - disseram-me que eu era uma das 10 pessoas no mundo que o achavam útil). Criar dicionários (já imaginou a quantidade de páginas para o verbete "coisar"?). Tenho muita vontade de aprender, só não quero ter de responder de qualquer jeito, sem entender o que me perguntam. Já entendo "sua batata tá assando", "sipá", "cê tá causando" e outras dez expressões do tipo. Inclusive já tive a oportunidade de ensinar algumas e contextualizá-las para outros colegas que caminhara para a dimensão paralela. Ainda assim estou perdida. Se algum leitor puder fazer a gentileza de indicar um curso rápido (claro, para acompanhar as mudanças constantes de significado de palavras como "troço" terei que fazer diversos cursos rápidos), agradeço. Melhor ainda, deixo um "Valeu, mano." para você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Putz, então sou outra das dez pessoas que ainda acham uso pro coitado do trema...

Bem-vinda à blogosfera, teacher! Ô mulé multi-uso, sô!